Prefácio
A obra “Memórias da Educação Infantil: histórias das primeiras creches municipais de São Carlos” pretende contar e relatar as histórias das creches municipais de São Carlos a partir de seus próprios protagonistas. Perspectiva ousada, na medida em que nos mostra que as pessoas podem narrar suas próprias histórias, e ao fazerem compõem e significam suas trajetórias, lhes dão sentidos, configurando os espaços sociais e compondo suas próprias vidas. Esta narratividade é um componente da subjetividade. Quando as narrativas são tecidas fazem história, situam a si, os outros e as coisas. A narrativa é uma maneira de mapear a vida e o social, mostrando os seus impasses, extraindo linhas de resistência, de escape, invenção e, portanto, situando e produzindo a si mesma ao longo dessas linhas.
O livro, desta forma, é uma cartografia que se faz como um território a partir das linhas que são traçadas. Portanto ele compõe as histórias das creches de São Carlos e de seus e suas protagonistas. Esta narratividade proposta pelo livro não é um gênero literário apenas, não são apenas reminiscências. Não é só Mnemosyne (figura grega que personifica a memória), cuja função é preservar do esquecimento, as narrativas nesta obra é uma forma de fazer história. Deste modo, este livro entrelaça história oral, lembrança, narração, acontecimento, e nos mostra de que maneira a educação das crianças pequenas foi se institucionalizando em São Carlos.
Outro ponto a sublinhar na proposta desta obra é a maneira pela qual a obra é composta. Todos(as) escrevem, cada um de seu jeito e a partir do lugar que ocupa(va) na história das creches. Todos escrevem, não há um autor que fala pelos outros ou que compõem a história para todos, não há uma grande narrativa que diga a verdade unificada dos acontecimentos. Cada um traz um pedaço da história que só poderia ser contada a partir daquele que narra, e que se une aos outros. Uma história sem representação, cada um tem a força da palavra e traça sentido ao seu trajeto, e nesta medida se faz a história social da conquista da creche no município de São Carlos. O livro é também uma inovação historiográfica, pois a história é contada por muitos: os pais, os professores, a comunidade, a universidade, os profissionais da creche, os gestores e etc.
O livro é também um balanço das décadas sobre a construção das creches. E este balanço não paralisa o tempo, mas, também, remete ao futuro, pois anuncia o que ainda há por fazer. Mostra os avanços, as possibilidades, as conquistas e os fracassos! Os avanços e os impasses que vivem a educação infantil. Esta etapa da educação mais do que qualquer outra é resultado de lutas, sobretudo das mulheres!
Portanto reafirmamos e convidamos os leitores e as leitoras para a proposta escrita pelas organizadoras do livro na apresentação:
“Que as histórias relatadas por essas pessoas nos inspirem a pensar no papel de cada um e cada uma de nós para a construção dos próximos capítulos dessa história”.
Anete Abramowicz