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Coleções

Embates Marxistas: apontamentos sobre a pós-modernidade e a crise terminal do capitalismo

José Claudinei Lombardi

 

Nas páginas que seguem socializo a primeira parte do texto apresentado como tese de livre docência na Faculdade de Educação da Unicamp, e que teve como título Reflexões sobre educação e ensino na obra de Marx e Engels (LOMBARDI, 2010). Constitui um conjunto de reflexões pelas quais busquei entender melhor os fundamentos materiais da produção filosófica e científica e que, por sua vez, constituem base para o entendimento sobre a educação e a pedagogia, objeto particular de análise e que me levam a refletir sobre as transformações do modo capitalista de produção. Esta primeira parte, que escapou completamente do projeto de estudo, foi uma das picadas que acabei abrindo a partir da estrada principal, tendo por objetivo entender conjuntural e pontualmente algumas questões da contemporaneidade. Trata-se de um texto datado, fortemente marcado por muitas questões e problemas que palpitam em nosso tempo, tendo portanto um forte caráter conjuntural, e a publicação exige rapidez para que muitas reflexões não fiquem exageradamente desatualizadas. Poderia ter ampliado o texto com muitas análises publicadas após a conclusão deste trabalho, mas acabei mantendo a forma e o conteúdo, como estavam, pois trata-se de uma produção datada (e como tal deve ser lida). 

 

Venho insistindo em vários escritos, e nunca é demais insistir, em face da avalanche novidadeira e seu olhar idealista, que defendo uma tese muito simples, até mesmo óbvia para o marxismo: que a educação (e o ensino) é determinada, em última instância, pelo modo de produção da vida material; isto é, a forma como os homens produzem sua vida material, bem como as relações aí implicadas - as relações de produção e as forças produtivas - são fundamentais para apreender o modo como os homens vivem, pensam e transmitem as ideias e os conhecimentos que têm sobre a vida e sobre a realidade natural e social. Para o marxismo, portanto, não faz o menor sentido analisar abstratamente a educação, pois esta é uma dimensão da vida dos homens que, tal qual qualquer outro aspecto da vida e do mundo existente, se transforma historicamente, acompanhando e articulando-se às transformações do modo como os homens produzem a sua existência. A educação (e nela todo o aparato escolar) não pode ser entendida como uma dimensão estanque e separada da vida social. Como qualquer outro aspecto e dimensão da sociedade, a educação está profundamente inserida no contexto em que surge e se desenvolve, também vivenciando e expressando os movimentos contraditórios que emergem do processo das lutas entre classes e frações de classe. 

 

Como disse já ao inicio desta introdução, este livro abarca a primeira parte da tese apresentada, e constitui uma retomada dos embates recentes com que tenho me defrontado. É uma continuidade de meus “acertos de contas”, ao mesmo tempo em que aproveito para aprofundar algumas questões prementes ao marxismo. Na tese esta primeira parte denominei “Os embates marxistas como ponto de partida” e que aqui recebe o título de E m b a t e s m a r x i s t a s: a p o n t a m e n t o s  s o b r e  a  p ó s - m o d e r n i d a d e e a  c r i s e t e r m i n a l  d o  c a p i t alismo. O livro encontra-se dividido em cinco capítulos: o primeiro é um início de conversa, pelo qual coloco “Marx e Engels como ponto de partida... ou de chegada”; o segundo é uma retomada ampliada das críticas que tenho feito à pós-modernidade e sua crítica à razão moderna; o terceiro é uma dívida teórica que tenho com alguns colegas e aproveito para adentrar no debate sobre a elaboração de Jameson e de Castoriadis; no quarto capítulo entro na polêmica quanto à importância da elaboração de Marx na contemporaneidade, daí o título “Marx morreu! Viva Marx!”; onde polemizo sobre a relação de trabalho entre Marx e Engels e a questão da continuidade ou ruptura na obra marxiana; nesta parte também dou uma resposta àqueles que “carimbam” a ortodoxia intelectual como dogmatismo; finalmente, o quinto e último capítulo é um escrito conjuntural sobre a crise econômica, social e política atual, no qual evidencio que é a própria crise que tem colocado em relevo o pensamento de Marx: “Marx manda lembranças. Numa conjuntura marcada pela crise, Estados buscam salvar o capitalismo da ação predatória dos capitalistas”.

 

A problemática tratada neste livro objetiva dar destaque ao fato de que continua forte o discurso antimarxista, e tomo por referência a verdadeira campanha, sistemática e ampla, levada a cabo pelos mais diferentes setores do conservadorismo, inclusive daqueles que pretendem se colocar na social-democracia. Nessa direção tem sido comum a publicação e a divulgação de críticas ácidas quanto à esquerdização da escola, promovida por fieis defensores de uma perspectiva de franca oposição ao marxismo. Apenas para tomar como exemplo, esse tema recebeu grande destaque em matéria especial da Revista Veja , em edição da semana de 20 de agosto de 2008, e que trouxe na manchete de capa: “O inssino no Brasiu è ótimo” (numa montagem que traz um “aluno” escrevendo no quadro negro, seguida da chamada “Os erros não são só dele. Os estudantes brasileiros são os piores nos rankings internacionais, mas... mais de 90% dos professores e pais aprovam as escolas”). Respaldando as matérias são apresentados dados de levantamento encomendado pela Revista a uma das incontáveis empresas de pesquisa de opinião pública, apresentada como “pesquisa encomendada pela Revista Veja à CNT/Sensus” e que traduz o lamentável quadro em que se encontra a educação brasileira.  

 

Numa matéria em que a ideologização é mal disfarçada com uma aura de cientificidade, neutralidade e correção das informações, pródiga em adjetivações, mostra que

 
[...] sob a plácida superfície essa satisfação esconde o abismo da dura realidade – o ensino no Brasil é péssimo, está formando alunos despreparados para o mundo atual, competitivo, mutante e globalizado. (REVISTA VEJA, edição 2074, São Paulo, ano 41, n. 33, p.73-74, 20 ago. 2008). 

 

Na continuidade da matéria, sob o título “Prontos para o século XIX”, ilustrando a imagem uma montagem do símbolo do comunismo (Foice & Martelo cruzado) , com uma caneta como cabo da foice e um lápis como cabo do martelo, após narrar dois episódios, presenciados pelos repórteres da Veja , que mostram professores em sala de aula fazendo crítica ao modo capitalista de ser e pensar e, supostamente, fazendo apologia da esquerda. As jornalistas são enfáticas, argumentando que os episódios e a pesquisa, “exemplificam uma tendência prevalente entre os professores brasileiros de esquerdizar a cabeça das crianças”. (REVISTA VEJA, edição 2074, São Paulo, ano 41, n. 33, p.77, 20 ago. 2008) Caracterizando o mundo atual como aquele em que “a empregabilidade e o sucesso na vida profissional dependem cada vez mais do desempenho técnico, do rigor intelectual, da atualização do pensamento e do conhecimento”, concluem que, em lugar de formar, “A doutrinação esquerdista é predominante em todo o sistema escolar privado e particular”, contribuindo, assim, para o insucesso e o fracasso escolar.  

 

De acordo com as repórteres, os alunos estão sendo preparados para viver no século XIX, quando o marxismo surgiu como ideologia modernizante; neste início do século XXI, entretanto, “o comunismo destruiu a si próprio em miséria, assassinatos e injustiças durante suas experiências reais no século passado”. O controverso registro sobre Marx bem expressa a ideologização e o despreparo intelectual para o trato de um clássico, seguramente pouco lido também nos cursos de jornalismo:

 

[...] Os professores esquerdistas veneram muito aquele senhor que viveu à custa de um amigo industrial, fez um filho na empregada da casa e, atacado pela furunculose, sofreu como um mártir boa parte da existência. Gostam muito dele, fariam tudo por ele, menos, é claro, lê-lo – pois Karl Marx é um autor rigoroso, complexo, profundo que, mesmo tendo apenas uma de suas ideias ainda levada a sério hoje – a Teoria da Alienação –, exige muito esforço para ser compreendido. [...] (REVISTA VEJA, edição 2074, São Paulo, ano 41, n. 33, 20 ago. 2008)

 

Lamentavelmente são usados trechos de posicionamentos de professores que parecem respaldar as denúncias feitas nas matérias, como o da professora Sonia Castellar, descrita como uma geógrafa “que há 20 anos dá aulas na faculdade de pedagogia da Universidade de São Paulo” e autora de um dos livros criticados na matéria. Segundo a matéria a professora afirmou que “Eu e todos os meus colegas professores temos, sim, uma visão de esquerda – e seria impossível isso não aparecer em nossos livros. Faço esforço para mostrar o outro lado”. Também aparece na matéria trecho de entrevista de Miguel Cereza, responsável por apostilas do COC: “Reconheço o viés esquerdista nos livros e apostilas, fruto da formação marxista dos professores. Mas não temos nenhuma intenção de formar uma geração de jovens socialistas”. Num caso e no outro, a matéria remete à formação (ou deformação) dos professores. 

 

Fechando a reportagem, a revista remete para o posicionamento dos que são “contrários à doutrinação”: a O N G  E s c o l a  S e m  P a r ti d o , fundada pelo advogado Miguel Nagib, e que mantém um site para expressar seus posicionamentos. Na apresentação da ONG no site, é exposto o princípio de que, numa sociedade livre, “as escolas deveriam funcionar como centros de produção e difusão do conhecimento, abertos às mais diversas perspectivas de investigação e capazes, por isso, de refletir, com neutralidade e equilíbrio, os infinitos matizes da realidade”. Segundo o site, tanto as escolas públicas como as privadas não cumprem esse papel, daí resolveram colocar “à disposição de estudantes universitários e do nível médio um espaço no qual poderão expressar suas opiniões sobre professores, livros e programas curriculares que ignoram a radical diferença entre educação e doutrinação ”. Pressupondo, portanto, a possibilidade de neutralidade na transmissão de saberes, normas, valores e padrões sociais, ancorados numa suposta diferença conceitual entre “educação” e “doutrinação”, os responsáveis pela ONG conclamam pais, alunos e demais cidadãos a combater a doutrinação ideológica nas escolas brasileiras.

 

Merece registro a afirmação de que a doutrinação precisa ser comprovada e que a prova disso são “testemunhos das vítimas” e a “formação de um acervo de documentos, artigos, estudos e livros didáticos que corporifiquem o ‘delito’ de doutrinação”. A comprovação das denúncias de esquerdização dos alunos pelos professores, entretanto, na teoria e na prática, acaba resultando na igualmente apologética defesa da perspectiva oposta – isto é, na defesa do mais deslavado liberalismo e numa perspectiva declaradamente de direita. Não é preciso muito esforço analítico para demonstrar que o combate à doutrinação é feito através da doutrinação inversa. Isso é o que se constata no elenco de “Artigos” postados no site, bem como nos “Depoimentos” e em outros acervos que ali se disponibiliza.

 

Voltando à matéria da Revista Veja , a suposta ideologização e esquerdização promovida pelo sistema escolar público e privado brasileiro, aparece como uma decorrência da falta de preparo dos professores para o desempenho de suas funções, recorrendo-se a dados estatísticos sobre a qualificação docente: 52% dos professores não receberam formação específica para lecionar as disciplinas que ministram, 22% deles sequer receberam algum tipo de formação superior. A reportagem afirma que, para os professores, “os chavões de esquerda servem como uma espécie de muleta, um recurso a que se recorre na falta de informação”. Para respaldar a responsabilização dos próprios professores pela situação, recorrem a um trecho de depoimento do historiador Antonio Villa: “Repetir meia dúzia de slogans é muito mais fácil do que estudar e ler grandes obras. Por isso, a ideologização é mais comum onde impera a ignorância”. Na ausência de uma análise mais acurada, com dados mais profundos e sólidos argumentos, para os efeitos apologéticos pretendidos por essa conhecida Revista, funciona o recurso das quantificações e das afirmações soltas, inclusive recorrendo e distorcendo trechos, pois os colocam fora do texto e do contexto, de intelectuais da envergadura de Simon Schwartzman e de Hannah Arendt.

 

Ao fazer as anotações motivadas pela reportagem da Revista Veja, me lembrei das várias pesquisas desenvolvidas sobre o curso de Pedagogia e a formação conteudística veiculada na formação de professores. No geral são pesquisas que mostram exatamente o contrário dessas matérias jornalísticas. Entre essas, recordo-me particularmente das pesquisas coordenadas por Susana Jimenez, pesquisadora da Universidade Estadual do Ceará e cujos resultados encontram-se em vários trabalhos publicados. Uma primeira pesquisa, exploratória, ocorreu entre 2001 e 2002, desenvolvida por pesquisadores do Instituto de Estudos e Pesquisas do Movimento Operário (IMO), do Centro de Educação da Universidade Estadual do Ceará (UECE). Essa pesquisa debruçou-se sobre o Curso de Pedagogia como espaço de formação do educador, num contexto em que os cursos ministrados em universidades públicas convivem com cursos “flexibilizados” de formação pedagógica e que visam “qualificar em massa os professores das redes estaduais e municipais de ensino”. (JIMENEZ E BARBOSA, 2004, p. 205) A pesquisa coletou, através de questionário, as opiniões dominantes quanto ao papel do curso de Pedagogia, concluindo que predomina a visão que atribui grande importância à educação para o desenvolvimento do país, seguida pela defesa da importância de uma formação crítico reflexiva do professor e, na sequência, pela “formação para a cidadania e pelo desenvolvimento de habilidades e competências”. Tomando por base os dados de pesquisa com os alunos, os autores não têm dúvida quanto ao significado das arraigadas opiniões sobre a educação:

 

[...] o quadro representado pelas indicações dos alunos acerca dos principais eixos norteadores do Curso de Pedagogia traduz com expressiva fidelidade os parâmetros dominantes no campo da formação do professor, que conjugam o aporte da imorredoura teoria do capital humano ao revisitado instrumentalismo da pedagogia das competências, temperado com a noção da cidadania acriticamente alçada ao status de medida suprema de todos os projetos e paradigmas sócioeducacionais da aludida pós-modernidade. [...]. (JIMENEZ E BARBOSA, 2004, p. 219-220)  

 

Essa orientação hegemônica, de recorte claramente liberal, certamente entoada de Norte a Sul do Brasil, convive “com os defensores de uma concepção dialética da educação”, como que expressando as contradições de classe características da sociedade capitalista. A continuidade do desenvolvimento dessa pesquisa foi direcionada para o entendimento da presença do marxismo no curso de Pedagogia, com dados coletados através dos programas curriculares e em entrevistas com professores na Universidade Estadual do Ceará, concluindo que é rarefeito “o comparecimento... do marxismo no espaço da formação docente”. O resultado da pesquisa aponta que o marxismo aparece: 1) ecleticamente articulado a outras concepções, pela mescla de categorias diferenciadas e divergentes de análise teórica; 2) numa perspectiva academicista de tomá-lo juntamente com outros clássicos; ou ainda, 3) de tomá-lo como um dos representantes clássicos de disciplinas particulares. Em síntese, os resultados da pesquisa de Jimenez expressa que o marxismo é “desfrutado em migalhas dispersas, mescladas a categorias contrapostas de análise do real, quando não ajustadas a um diálogo esdrúxulo com os chamados paradigmas emergentes, acoplados ao ideário da cidadania planetária e da inclusão social”; e que, em muitos programas de curso, as referências a Marx fazem um divórcio “entre o Marx filósofo, analista da sociedade do capital – sendo lícito, como tal, contemplá-lo em alguma medida em disciplinas de filosofia ou sociologia – e o Marx pensador revolucionário comprometido com o comunismo” (JIMENEZ, In TONET, 2007, p. 5).

 

Num relato mais alongado dos resultados dessa pesquisa, debruçando-se sobre as disciplinas que tomam o marxismo como uma referência programática, em linhas gerais, concluiu como segue:

 

[...] no contexto analisado, o legado marxista é desfrutado, predominantemente, em fragmentos pouco conectados entre si, quando não se ajuntam estes com categorias atinentes a perspectivas contrapostas de análise do real. Em alguns casos, empregam-se terminologias ou formulações claramente afinadas com o campo marxista, porém as unidades do programa ou as indicações bibliográficas não se coadunam com tal orientação; em outros, o referencial marxista é levado a travar um diálogo esdrúxulo com os chamados paradigmas emergentes, desconsiderando o fato de que estes cumprem, precisamente, o papel de superar a suposta obsolescência do marxismo. Em outras instâncias, ainda, situam Marx e o marxismo em campos opostos, tomando o marxismo, impreterivelmente, como doutrina, como dogma, sendo, como tal, rejeitado. Ou, então, aprecia-se o Marx filósofo, clássico dentre os grandes clássicos, desconsiderando, contudo, sua condição de teórico da revolução proletária. Por fim, repartese Marx entre o bom – o que contribui para uma noção de práxis, o desenvolvimento de uma consciência crítica – e o mau – aquele do determinismo econômico, avesso ao humanismo, incapaz, em suma, de reconhecer o ser social para além da esfera do homo economicus . (JIMENEZ et.al., 2006) 

 

A rarefação do marxismo, entretanto, não deve levar à conclusão apressada de aceitação irrestrita do status quo e, muito menos, com a ocorrência de “despreocupação leviana” quanto a formação docente. Os resultados da pesquisa apontam para “o comparecimento, ainda que marcadamente irregular e problemático, do marxismo... no espaço de formação pedagógica considerado na pesquisa”. (JIMENEZ et.al., 2006) 

 

Na perspectiva da crítica ao marxismo, a pesquisa aponta que são usados autores que fazem uma desqualificação generalizada do marxismo, notadamente aqueles que apontam a associação entre o marxismo, o socialismo e a tragédia stalinista; também aqueles que promovem o divórcio entre o Marx filósofo, teórico do capitalismo, e o Marx pensador revolucionário, comprometido com a construção estratégica do comunismo. Esse último aspecto é ancorado no entendimento de que o marxismo sofreu, nas últimas décadas, um de seus maiores ataques ideológicos, “Fruto de uma contra ofensiva político-ideológica levada a cabo pelos ideólogos, partidos, líderes políticos e meios de comunicação do imperialismo” e que “se estendeu às universidades refletindo-se no avanço de ideologias reacionárias” (CERDEIRA, 1999, p. 131). Assim, ao mesmo tempo em que se aponta a atualidade da análise de Marx sobre o capitalismo, este é condenado como “defensor da revolução socialista, do internacionalismo, da organização da classe em partido e do potencial revolucionário da classe operária”, do que conclui que “Ao separar o Marx analista do Marx revolucionário procura-se esterilizar o próprio marxismo”.

 

Tratando das concepções que norteiam a formação de professores, a pesquisa aponta para a hegemonia da perspectiva críticoreflexiva que explicita seu desacordo com o marxismo no que diz respeito à relação entre educação e prática social. Para Jimenez, essa postura pode ser exemplificada com o livro Escola Reflexiva e Nova Racionalidade (2001), organizado por Isabel Alarcão, da Universidade de Aveiro (Portugal), centrado na defesa de uma suposta necessidade de “adequar a educação às novas exigências postas pela sociedade global e tecnológica contemporânea, por meio de uma mudança paradigmática q u e c o n d u z a a e s c o l a n a d i r e ç ã o d a f o r m a ç ã o r e f l e x i va” (JIMENEZ, 2006). Na referida obra, Alarcão ( apud JIMENEZ, 2001, p. 22) é uma enfática defensora do ideário cidadão, pelo qual à escola reflexiva caberia não só preparar para o exercício da cidadania, mas, principalmente, praticar e viver a cidadania. É nesse aspecto que Jimenez foca sua crítica: “tal paradigma elege a cidadania como o eixo por excelência da propositura pedagógica”, circunscrevendo-se num sentido “oposto àquele embutido numa abordagem marxista da educação”13. Delimitando a cidadania ao horizonte da ordem burguesa, ideologicamente esta categoria é tomada como sinônimo de emancipação, pretensamente esvaziando a perspectiva revolucionária do marxismo.

 

Espero que a publicação deste livro contribua para reforçar os embates que tem como ponto de partida, ou de chegada, o marxismo, aqui tomado como uma concepção revolucionária da sociedade em que vivemos.  

 

 

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